9 de mai. de 2014

Breve Introdução à Magia, parte 5

Por: Colorado Teus

Satisfação,

no último texto sobre magia prática foi falado sobre os sistemas mágicos, sobre como é formado um sistema mágico, como as pessoas podem se ligar a eles, alguns problemas que isso pode ocasionar (principalmente quando a pessoa se liga a mais de um ao mesmo tempo) e também sobre o Ritual Menor dos Pentagramas. Para entender um pouco melhor estas ideias, separei uma frase de Joseph Campbell, do documentário "O Poder do Mito":

"Quanto ao ritual, é preciso que ele se mantenha vivo. Muito do nosso ritual está morto. É  extremamente interessante ler a respeito das culturas primitivas, elementares – como elas transformam os contos populares, os mitos, o tempo todo, em função das circunstâncias. Um povo se move de uma área em que, digamos, a vegetação era o suporte básico, para as planícies. Muitos dos nossos índios das planícies, do período em que andavam a cavalo, tinham pertencido originariamente à cultura do Mississipi. Eles viviam ao longo do Mississipi, tinham moradia fixa nas cidades e desenvolviam uma agricultura estável.
Então receberam os cavalos dos conquistadores espanhóis, o que tornou possível aventurar-se pelas planícies e praticar a grande caçada das manadas de búfalos. Por essa época, sua mitologia transformou-se de mitologia ligada à vegetação, em mitologia ligada ao búfalo."




Agora que estamos falando sobre a criação dos sistemas mágicos, é preciso saber o porquê deles serem criados. Quase tudo que foi discutido até agora é mais ligado aos mundos ativo e formativo, ou Assiah e Yetzirah respectivamente (de acordo com a divisão com base nos Quatro Elementos), então, após entender estes, vamos falar sobre o mundo emocional ou criativo, o mundo da Água.

"Emoção é uma experiência subjetiva, associada ao temperamento, personalidade e motivação. A palavra deriva do latim emovere, onde oe- (variante de ex-) significa 'fora' e movere significa 'movimento'." Wikipédia

Todos temos os mais variados tipos de emoções durante nosso dia a dia, desde a vontade de abraçar aqueles que amamos, até a vontade de chorar quando não temos o que queremos. Mas existe um problema muito grande quando vamos falar sobre emoções, elas estão além da nossa língua. Cada emoção depende basicamente da percepção de mundo de quem a sente e também da intensidade com que o algo que a gerou aconteceu.

Quando eu digo "Eu amo minha mãe", é um amor muito diferente de quando eu digo "Eu amo minha namorada", ou "Eu amo meu trabalho", ou "Eu amo meu filho", ou "Eu amo chocolate", etc. Quando, por exemplo, a palavra "amor" é lida em um texto, o leitor tenta ativá-la recordando de algo (ou seja, o remete a algo que ele já sentiu) para entender que tipo de amor o autor está citando. Mas uma pessoa que nunca teve um filho, não vai entender exatamente o que um pai sente quando diz "Eu amo meu filho", enquanto esse não tiver um.

Para contornar estas situações, existem muitas técnicas que ajudam a colocar uma parte maior do sentimento no texto, como fazer comparações ou metáforas, escrever poemas e músicas, fazer um desenho, um vídeo, etc. Eu poderia falar "Eu amo tanto minha namorada que sem ela minha vida seria preto e branca". Com isto, levo o leitor a pensar em como é a diferença em ver algo (como tvs ou fotos) em preto e branco e à cores; ao sentir a diferença, ver que é muito mais sem graça, ele consegue chegar mais perto de entender que minha vida seria bem mais sem graça sem minha namorada, e, assim, entender um pouco mais do meu amor por ela. Mas mesmo assim não é algo preciso, então eu poderia escrever um ou vários poemas, uma ou várias músicas, fazer desenhos e muitas outras coisas. Cada vez que fizer algo assim, as outras pessoas poderão entender um pouco melhor suas emoções.

Mas sabemos que emoções não são ligadas apenas a amor, fazem parte de todo nosso dia a dia. Os índios tinham uma ligação muito forte com a Mãe Natureza, então sempre que conseguiam alguma comida, sentiam uma gratidão e felicidade muito grande, para expressar isso, criavam festivais, músicas, pinturas, esculturas e muitas outras coisas como forma de agradecê-La. É aí que percebemos a diferença que Joseph Campbell cita de quando há uma mudança nos hábitos dos índios, toda sua maneira de cultuar é modificada (de cultos de agradecimento à floresta, se tornam cultos de agradecimento aos búfalos), porém, as emoções são praticamente as mesmas. Quem sabe uma foto ajude o leitor a perceber estas emoções que citei dos índios:



Com isso, voltamos àquilo que eu estava falando sobre símbolos na parte 3, que símbolos são imagens que um grupo de pessoas tem com um significado em comum (aquilo que nos une), então, com a formação de um sistema simbólico, começa a existir uma padronização que ajuda muito na expressão das emoções entre pessoas que o entendem. Isto é fortalecido quando as pessoas vivem utilizando e percebendo aquele sistema simbólico rotineiramente, não é que não funciona para quem não vive assim, porém, é bem mais fraco para estes. Eu que, para comer, preciso apenas arrumar dinheiro e ir a um supermercado, nunca saberei de verdade o que é louvar um Deus Caçador, o que é suplicar comida a Ele junto com toda uma cidade, com seus filhos, com medo de nunca mais conseguir comer e ver seus entes queridos morrerem de fome.


Até aqui falamos das emoções que nós conseguimos entender e tentamos transmitir a alguém, mas e as que nem nós mesmos conseguimos entender? É aí que entra o que se chama de "sub-consciente" dos seres humanos, o lugar onde ficam as emoções que o ser possui, mas ainda não foi capaz de entender conscientemente. Quando estas emoções começam a aflorar, elas começam a chegar na mente e tomam forma de imagens que o ser possui em memória, o que pode ficar algo grosseiramente aproximado. Vamos a um exemplo:

Dois índios, um que viveu a vida toda na Floresta Amazônica e o outro que viveu no Egito. Quando algo começa a ameaçar a vida do primeiro, nos sonhos, ele verá uma onça pintada tentando atacá-lo, uma aranha, uma cobra, etc. Se esse mesmo algo ameaça a vida do segundo, ele verá nos sonhos um escorpião, uma serpente, um crocodilo, etc.

Quando é algo que a pessoa não consegue fazer a mínima ideia do que seja, aparecem seres deformados, totalmente desconexos, durante os sonhos.

Os sistemas simbólicos que citei ajudam justamente nisso, quando se sintoniza com um, as emoções começam a chegar baseadas nesses padrões, mais um exemplo:

Várias pessoas sentem que precisam disciplinar alguém pelo mundo: um grego pode sonhar com o deus Áres, um umbandista com Ogum, um hindu com Kali, um egípcio com Hórus, uma criança dos dias atuais com Vegeta ou Kratos, com um soldado de exército, etc.

Como é importante analisar as próprias emoções, é muito importante que se entenda qual a base simbólica que sua mente está utilizando, ou vira uma salada de frutas. Note que, por toda educação e percepção de mundo que as pessoas de um grupo têm, a forma de disciplinar do grego não é a mesma dos umbandistas, hindus e egípcios, logo, as imagens citadas não são as mesmas, gerando Deuses e culturas diferentes. Mas, apesar disso, existem sim símbolos que servem para a grande parte das pessoas do mundo todo, são imagens formadas à partir do que C. G. Jung chamou de "Inconsciente Coletivo", que é a parte não consciente das coisas que todas as pessoas do mundo são capazes de perceber, simplesmente por serem seres humanos criados por outros seres humanos; este assunto será abordado quando estivermos falando de Atziluth, ou mundo do Fogo.



Para finalizar este texto, proponho a criação de um diário de anotação de sonhos. Todas as pessoas do mundo sonham, porém, nem todas lembram deles, justamente porque lembrar dos sonhos gasta energia e a maioria das pessoas não quer gastar energia em algo que para ela não faz o menor sentido. A melhor maneira que conheci para lembrar de sonhos é os anotando, quando fazemos isso, nosso cérebro começa a dar mais atenção à eles e nos ajuda a lembrar cada vez de mais e mais detalhes, chegando a uma hora que a pessoa dificilmente consegue lembrar se o que passou foi sonho ou realidade, aí vem a segunda grande importância de anotá-los, para não confundirmos os sonhos com o mundo físico. Existem outras coisas que nos ajudam a induzir nosso cérebro a lembrar dos sonhos como imagens, talismãs, músicas, orações, etc. A terceira grande importância, não menos importante que as outras, é começar a perceber os padrões em que as imagens chegam, assim, podemos entender melhor quais são nossos próprios sistemas simbólicos e, assim, entender melhor nossas emoções inconscientes.

"Vamos todos em busca do elixir da longa vida..."

Vai dar certo!

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